história dos irmãos Grümm
versão: Josué Geraldo Botura do Carmo
O burro estava pastando no quintal de sua casa, quando escutou o dono falando para a mulher:
- Olha mulher, nosso burro já está muito velho, já não serve mais para nada, acho melhor matá-lo.
O burro ficou muito triste, ele que havia trabalhado a vida toda, agora só porque estava velho...
Mas o burro que era muito menos burro do que parecia, na manhã seguinte, antes do sol nascer, abriu a porteira e fugiu.
Ele andou, andou, andou muito, até que num pedaço da estrada ele escutou assim:
- Auuuuu! Auuuuu!
- Olá amigo cachorro, mas que tristeza é essa?
- O amigo não pode imaginar, só porque estou muito velho e não sirvo mais para caçar, meu patrão resolveu me matar, Auuuuu! Auuuuuuuuuuu!
- Oh, amigo cachorro, não seja tolo, faça como eu, fuja! Monta aí nas minhas costas e vamos correr mundo.
E o cachorro montou nas costas do burro e seguiram os dois pela estrada afora. E eles andaram, andaram, andaram muito, até que em um pedaço da estrada eles escutaram assim:
- Miauuu! Miauuu! Miauuu!
- Olá amigo gato, mas que tristeza é essa?
- Os amigos não podem imaginar, só porque estou muito velho e não sirvo mais para caçar camundongos, meu patrão resolveu me afogar no poço!
- Ora amigo gato, não seja tolo, fuja! Suba nas costas do amigo cachorro, quem carrega um, carrega dois!
E o gato montou nas costas do cachorro e os três seguiram pela estrada afora.
E eles andaram, andaram, andaram muito, até que num pedaço da estrada eles escutaram assim:
- Cocorocó! Cocorocó!
- Olá amigo galo, mas que tristeza é essa?
- Os amigos não podem imaginar, só porque estou muito velho e não sirvo mais para cantar, meu patrão resolveu me matar!
- Ora amigo galo não seja tolo faça como eu, o nosso amigo cachorro, e o nosso amigo gato, fuja! Vamos correr mundo. Monta aí nas costas do nosso amigo gato.
E o galo montou nas costas do gato e lá se foram pela estrada afora: o cachorro nas costa do burro, o gato nas costas do cachorro e o galo nas costa do gato.
E eles andaram, andaram, andaram muito, até que num pedaço da estrada, o galo gritou:
- Cocorocó! Cocorrcó! Estou vendo uma casa com a chaminé acesa lá no meio da floresta!
- Miauuu! Estou sentindo cheiro de comida!
- Auu! Então vamos para lá.
E o burro se pôs a caminho. E eles andaram, andaram, andaram muito, até que chegaram a uma casa cheia de janelas. Todas trancadas. Eles queriam pedir um pouco de comida e arranjar um lugar para passar a noite, e não sabiam como fazer.
O gato gritou:
- Tive uma idéia! Talvez se fizermos uma serenata, os donos da casa gostem da nossa música, e nos mandem entrar nos dando comida e agasalho.
E eles começaram a cantar assim:
- SÓ PORQUE NÃO VOU À FEIRA, MEU PATRÃO QUER ME MATAR.
- E O MEU DO MESMO MODO, SÓ PORQUE NÃO VOU CAÇAR.
- CAMUNDONGO AGORA É MATO, MEU PATRÃO QUER ME AFOGAR
- E SE EU NÃO ANDO BEM LIGEIRO NA PANELA EU VOU PARAR.
- PUM!
- AU!
- MIAU!
- COCOROCÓÓÓCO!
Mal terminaram a música, os donos da casa saíram espavoridos pelas portas e pelas janelas. Os amigos ficaram muito tristes e o galo falou assim:
- Está vendo, a nossa música foi tão ruim que espantou os moradores da casa, agora como vamos fazer?
O gato gritou:
- Tive uma idéia! Já que a comida está quente, não podemos deixar que ela esfrie. Vamos entrar e comer.
Os quatros amigos entraram, comeram, comeram muito e foram andar pela casa. Era uma casa enorme, cheia de quartos e salas, e foi em um grande salão que encontraram uma mesa deste tamanho, e em cima da mesa ouro, esmeraldas, pedras preciosas. Quanta riqueza!
Os quatro amigos resolveram passar a noite naquela casa para, na manhã seguinte, decidirem o que fazer.
O burro deitou-se no quintal, encostado no muro; o cachorro deitou-se atrás da porta da cozinha; o gato dormiu em cima do fogão a lenha, perto das brasas; e o galo encarapitou-se lá no alto do corrimão da escada.
Enquanto isso, lá no acampamento, o chefe dos bandidos...
(aqueles homens que estavam naquela casa eram uma quadrilha de ladrões que saqueavam cidades e escondiam todo o produto do roubo ali naquela casa da floresta), ...chamou dois deles para que fossem lá na casa da floresta, para ver o que estava acontecendo.
Os dois bandidos chegaram assustados, a casa estava toda apagada e em silêncio. Resolveram entrar pelo quintal, pulando o muro. Um deles pisou no rabo do burro que lhe deu um coice na cabeça; o outro correu para a porta da cozinha e pisou no rabo do cachorro que lhe deu uma mordida na perna; o outro correu para acender o fósforo na brasa do fogão, encostou o palito no olho do bichano, pensando ser uma brasa acesa, e este lhe arranhou a cara; e o galo pôs-se a gritar:
- Cocorocó!
Os dois ladrões foram correndo contar para o chefe:
- Chefe, a casa da floresta está mal-assombrada, imagine o senhor, quando eu pulei o muro do quintal, um gigante enorme me deu uma paulada na cabeça.
- O pior chefe, é que quando eu entrei pela porta da cozinha um monstro me mordeu a perna.
- Mas o pior mesmo chefe, é que quando eu fui acender o fósforo na brasa do fogão, um dragão enorme me arranhou a cara.
- Mas o mais terrível é que, durante todo o tempo, uma bruxa gritava lá do alto da escada: “Traga esse bandido aqui! Traga esse bandido aqui!”.
- Se é assim - falou o chefe - vamos para bem longe daqui.
Na manhã seguinte, os quatro amigos levantaram, lavaram o rosto, tomaram café, escovaram os dentes e...
Alguns dizem que eles ficaram vivendo ali naquela casa para o resto de suas vidas... Outros dizem que não, que eles continuaram a viagem pela estrada afora, e que ia:
O cachorro nas costas do burro;
O gato nas costas do cachorro;
E o galo nas costas do gato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário